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Arthur Igreja: Incompetência sai ainda mais caro do que a corrupção no Brasil

Fonte: Imprensa Faciap

Os recursos desviados em esquemas de corrupção no Brasil penalizam os cofres públicos em torno de R$ 200 bilhões por ano, de acordo com estimativas do Ministério Público Federal. Mas se o assalto ao Tesouro promovido pela corrupção é de bilhões, a dimensão do dano causado pela má gestão é incalculável. Somadas, podem manter um país na miséria. A análise é do assessor econômico da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap), Arthur Schuler da Igreja.

Ele cita como exemplo o caso da Petrobras, em que corrupção e incompetência formaram um combo trágico. “As perdas com desvios de dinheiro na Petrobras, investigados pela Operação Lava Jato, foram calculadas em R$ 6 bilhões. Já decisões administrativas equivocadas, como a do governo federal de segurar artificialmente o preço dos combustíveis para controlar a inflação desde 2005, causaram uma verdadeira devastação. Foram pelo menos R$ 50 bilhões em perdas por má gestão, além da perda do valor de mercado na ordem de R$ 436 bilhões”, diz ele.

CORRUPÇÃO

No caso da corrupção, não é o prejuízo financeiro o mais nocivo. Um dos impactos mais graves, no entendimento de Arthur Igreja, é o amortecimento moral. “O roubo do político de Brasília não é o mais sério de tudo. Mais danosa é a ideia que acaba sendo transmitida com esse roubo, de que o ilícito é, de alguma forma, aceitável. Isso faz com que muitas pessoas passem a acreditar que podem alterar notas de restaurante e sonegar impostos porque se os políticos podem, por que o resto da população não deveria fazer? Esse é o grande câncer da corrupção”, diz o assessor econômico da Faciap. “Quando um deputado é pego embolsando R$ 79 milhões, ficamos revoltados porque é uma grande quantia de dinheiro. Mas há 204 milhões de brasileiros. Se cada um fraudar um real por ano, o rombo será muito maior”.

A corrupção também contribui para a destruição da confiança, base da burocracia. “Quando o senso de corrupção está impregnado, negócios são fechados na defensiva. O que quer dizer mais contratos, mais litígio, mais advogados, mais garantias, mais estrutura”, afirma Igreja. “Eu crio etapas para travar a corrupção, motivado pela sensação de que serei passado para trás. Por isso, um país corrupto, por definição, é pobre e ineficiente. É uma máquina engessada, em que tudo é preciso ser reconhecido em cartório”.

Outra perda é a da competitividade. Um país não confiável, tem problemas para competir com outros de baixa corrupção. “A nação corrupta é mais cara por causa da burocracia. Sendo burocrática, não consegue competir no mercado internacional”. O resultado é a pobreza, que abre espaço para mais corrupção. “O ciclo se torna quase impossível de ser quebrado”, afirma Arthur Igreja.

Além disso, empresas em países corruptos têm de 7 a 10% mais funcionários do que as de países não corruptos, o que representa mais gastos. Os juros também sobem. O dinheiro fica mais caro, circula menos e a economia se torna lenta.

INCOMPETÊNCIA

A incompetência é ainda mais difícil de ser mensurada. Isso porque só é possível calcular consequências de atitudes concretas. Decisões não tomadas e negligência, por exemplo, que também caracterizam falta de gestão, são difíceis de contabilizar.

De acordo com o assessor econômico da Faciap, a incompetência do setor público brasileiro se torna assustadora ao se comprar o patrimônio imobilizado das empresas estatais com o das empresas de capital privado. As estatais têm 48% do patrimônio imobilizado no Brasil. Só que geram 24% do PIB. “Em outras palavras, para cada R$1 de patrimônio que ela tem, gera R$ 0,50 de receita”, analisa Arthur Igreja. Enquanto a iniciativa privada tem os outros 52% do patrimônio imobilizado e geram 76% do PIB. “Basta vermos a Vale e a Embraer, que eram empresas irrelevantes internacionalmente e, tão logo foram privatizadas, se tornaram referência mundial”.

Arthur Schuler da Igreja também lembra o caso da Medida Provisória 579, que mudou as diretrizes de renovação das concessões e levou as distribuidoras de energia elétrica a buscarem empréstimos. O resultado do que o assessor econômico da Faciap chama de decisão antimercado foi divulgado em uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) deste ano. Um estudo da instituição aponta que, nos últimos 43 anos, os investimentos tiveram uma redução de 60% em relação ao PIB. Nesse contexto, o setor de energia elétrica teve a maior perda, cerca de 69,9% do PIB entre 1971 e 2014, de acordo com o levantamento. “Essa conta explodiu e o Brasil é hoje, com folga, o país com a energia mais cara do mundo. Uma decisão incompetente que penalizou o sistema elétrico em mais de 130 bilhões”, segundo Arthur Igreja.